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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

O CHARLATÃO

Por João Paulo da Silva


Tenho uma admiração especial pela charlatanice. Calma. Não me interpretem mal. É a técnica que me atrai. Uma espécie de teoria popular do fingimento, da artimanha. Quando bem dominada e desenvolvida, a charlatanice é capaz, inclusive, de produzir um certo glamour. Dependendo, claro, de quem a emprega. Acho até – de verdade mesmo – que ela deveria ser considerada uma arte. Não deve ser nada fácil dominar o método da enganação. O sujeito precisa ter desenvoltura, ser escorregadio, habilidoso e saber a hora exata de fingir. É uma atividade que exige muito sangue frio. Além disso, um bom charlatão deve passar confiança. A charlatanice não é para qualquer um.
Poeta ranzinza, músico e eterno estudante de Letras, o amigo Luis Rosas vez por outra ataca de professor de Literatura Brasileira. Em geral, quando a grana está mais curta do que pente de carrapato. E é justamente ao se aventurar na história de nossa ficção que ele demonstra todo o seu talento para a charlatanice. Em certa ocasião, tive a oportunidade de assistir a uma de suas aulas. A recordação sempre me emociona. É o tipo de coisa que não se vê todo dia.
Do lado de fora da sala de aula, eu acompanhava a destreza do professor charlatão.
- Bom, turma, naturalmente vocês sabem que o Quinhentismo Brasileiro também é conhecido como a Literatura dos Viajantes. – dizia ele – Isso porque os primeiros escritos da época foram feitos por cronistas vindos nas caravelas, lá de Portugal, que aportaram por aqui. E o principal deles, é claro, chamava-se Pero Vaz de Caminha. O mesmo que escreveu o primeiro relato sobre as terras recém-descobertas. A famosa carta sobre o descobrimento do Brasil.
Tudo parecia correr com tranquilidade. Sem sobressaltos. Foi quando veio a pergunta:
- Professor – falou um dos alunos – além de Pero Vaz de Caminha, quais eram os nomes dos outros cronistas?
Fora da sala de aula, eu pensava: “Pronto. Agora ele se ferrou. Certeza como essa ele não sabe.”. Mas um charlatão é sempre um charlatão.
- Veja bem, sua pergunta é muito interessante. Me faz lembrar de algumas coisas engraçadas desse período, algumas curiosidades. O principal cronista foi o Pero Vaz de Caminha, mas, o que poucos sabem, é que naquela época praticamente todo mundo se chamava Pero. Era Pero Disso, Pero Daquilo, Pero No Mucho e por aí vai. Era tudo Pero. Entretanto, o que o aluno precisa realmente saber é o seguinte: teve Pero é do Quinhentismo.
Até hoje não consigo segurar as lágrimas. De riso.

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