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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

BROXADAS

Por João Paulo da Silva
 
 
 
Broxar é normal. Acontece. Quer dizer, desde que não aconteça sempre ou na maioria das vezes. Mas se esse é o seu caso, sugiro que procure um médico rapidinho. Existem muitos tratamentos eficazes contra a disfunção erétil (é feio falar impotência sexual). Entretanto, se você já ficou sozinho com a Scarlett Johansson dentro de um elevador, ela te dando o maior mole, e mesmo assim o tesão não veio, então desista. É melhor aposentar o “falecido” e ir criar passarinho no interior de Minas. Não insista. Vai ser vexame atrás de vexame. De todo modo, dar uma broxada ou outra na vida não é motivo para tanto desespero assim. Acontece com os melhores pintos.

O Mateus e a Susana andavam de caso há uma semana. Era pouco tempo. Se esbarraram numa festa, trocaram telefones e saíram algumas vezes. Ainda estavam se conhecendo, pessoal e sexualmente falando. Então, o Mateus sugeriu um jantar romântico na casa dele. Luz de velas, vinho, uma massa. Poderiam conversar bastante e depois passar a noite juntos. Ela concordou.
- Olha, não sabia que você cozinhava tão bem. – elogiou a Susana.
- Não fiz nada. Penne ao pesto qualquer um faz.
- E essas velas?! E esse vinho?! Delicioso. Está tudo tão lindo. Você é um fofo.
- Que bom que você gostou. Pelo visto acertei no jantar.
- E como acertou! Adoro esse romantismo, tão em falta nos homens ultimamente.
- Bom, então começamos bem. – ele sorriu.
- É verdade. No que mais será que a gente combina, hein?! Me fala do que você gosta.
- Ah, não sei. Gosto de tanta coisa...
- Música?
- Ah... Jazz.
- Blues. Praia ou cinema?
- Cinema.
- Prefiro cinema também. Religião?
- Ah... eu sou ateu.
- Tudo bem. Sou meio agnóstica. Verão ou inverno?
- Primavera.
- É melhor mesmo. Sexo com a luz acesa ou apagada?
- Curto uma meia-luz. Pra criar um clima.
- Ai, que lindo. Tá falando sério?
- Te juro.
- E política? Você gosta?
- Sim. Não posso me dar ao luxo de não gostar.
- Eu também. Em quem você votou na última eleição?
- Naquele cara da esquerda.
- No candidato do PT?!
- Não. No cara da esquerda mesmo. Acho que era o...
- Eu votei no Serra.
- No José Serra?
- Sim. Ele mesmo. Sempre votei nele.
- Hum...
- Algum problema?
- Não. Nenhum.
- Vinho branco ou tinto?
- Tinto.
- Ah, que bom! Adoro tinto. Seco ou suave?
- Demi-seco.
- Você não existe. Viu como a gente combina?!
E foi assim durante boa parte do jantar. Papo animado. Garrafa do vinho esvaziando. Quando se deram conta, estavam os dois agarrados, rolando nus na cama. Beijo no pescoço, língua no ouvido, mão em cima, mão embaixo, morde aqui, chupa ali. E nada de o Mateus apresentar as armas. Aí a Susana estranhou.
- O que foi? Não tá gostoso?
- Não é isso. É que não estou conseguindo.
- Por quê? Você nem bebeu tanto assim.
- Eu sei. Não foi a bebida.
- E o que foi então, Mateus?! Fiquei feia por acaso?
- Não. Você é linda. Maravilhosa. Um espetáculo.
- Então vem pra cá, vem. Deixa eu dar uma animadinha em você. – e o agarrou com as pernas.
- Não. Espera. Para. Não vai rolar. Não vou conseguir.
- E por que não vai conseguir, cacete?!
- Porque você votou no Serra! Não consigo transar com alguém que votou no Serra! Pronto. Falei.
- Mas que bobagem é essa agora?! Vai misturar sexo com política?! Uma coisa não tem nada a ver com a outra, Mateus.
- Eu sei que não tem. Só que eu fiquei com isso na cabeça. Olha, aceito tudo. Menos o Serra.
- Mas você não vai transar com o Serra! Vai transar comigo, cacete!
- Não é assim tão simples, Susana. É estranho. Tente me entender. É como se o Serra estivesse aqui na cama também, olhando a gente, sabe? Aquela careca, aquele rosto, aqueles dentes. Meu Deus! Eu não consigo!
- Você é louco. Eu vou embora. – e começou a se vestir.
- Não! Espera. Não vai, por favor. Fica aqui comigo. Vamos ver um filme. Quem sabe se a gente conversar sobre outro assunto... Tem certeza de que você votou no Serra?!
- Adeus, Mateus.
- Não, Susana. Não vai embora. Não me deixa falando sozinho.
- Você não tá sozinho. O Serra não tá aí? Conversa com ele. Tchau.

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