Por João Paulo da Silva
Um amigo até me falou que era bobagem. Machismo da minha parte e coisa e tal. Eu até concordo. Mas é que... sei lá. Ficou um clima chato, sabe? Maior constrangimento, pô! Fiquei todo sem jeito na hora.
Eu tinha ido ao urologista. O motivo? É melhor poupá-los dos detalhes. Posso dizer apenas que o problema se tratava de uma dor que eu estava sentindo numa região estratégica. Mas a situação era dura, confesso. Sem trocadilhos maldosos, por favor.
O certo mesmo é que fui tomado pelo nervosismo. Me angustiava só de pensar no que o médico poderia dizer. Uma porção de hipóteses passava pela minha cabeça medieval.
-
Hum...
-
É grave, doutor?
-
Grave?! Gravíssimo, meu caro!
- Ai, meu Deus do céu! O que é que eu tenho?
- Você faz sexo regularmente?
- Regularmente? Bom, até as 20 horas funciono regularmente. Depois... já não garanto.
- Hum...
- O que foi?
- Vamos ter que amputar.
- O quê?! Amputar? Mas por quê?
- Por falta de uso.
Enfim, eram ideias estúpidas como esta que ocupavam minha mente quando fui chamado pela recepcionista.
- Senhor João? Pode entrar. Sala dois.
Entrei. Todo desconfiado. Mas entrei.
- Muito bem, João. Qual é o problema? – perguntou o médico atrás de uma mesa.
Entre uma gaguejada e outra, fui explicando tudo nos mínimos detalhes. Rapidamente, o médico deu o diagnóstico.
- O senhor vai ter que entrar na faca.
- Como assim “entrar na faca”?
– me assustei.
- Vamos ter de fazer uma cirurgia.
- Cirurgia? Mas o senhor nem me examinou direito! Eu nem mostrei o...
- Nem precisa mostrar. Só pelo que o senhor me falou pude identificar o problema.
- Ahhh, não! Mas agora eu quero mostrar. Faço questão.
Um silêncio incômodo se fez. Aí o médico disse:
- Está bem. Pode se despir.
Ao baixar as calças, grande foi a minha surpresa. Enorme, por sinal.
Eu não estava achando meu pênis.
- Vamos, rapaz. Pode mostrar. Não precisa ter vergonha.
– disse o médico.
Procurei por toda a cueca. Nem sinal dele.
- Calma, doutor. Eu vou achá-lo. Não se preocupe. Até ontem ele estava por aqui! Juro! Ai, meu Deus. Que vexame!
Finalmente, com muito esforço, consegui encontrá-lo. Estava muito encolhido. Tinha se escondido quando ouvira falar em faca. Aproximei-me um pouco dele e murmurei:
- Isso é coisa que se faça, rapaz! Olha o vexame! Vamos! Apareça! Com essas coisas não se brinca.
O médico não disse nada. Com certeza notou meu constrangimento. Quis me poupar. Explicou apenas que o procedimento cirúrgico seria simples. Meu problema era ocasionado pelo excesso de algo que precisava ser reduzido. Daí a necessidade de operar. Segundo o médico, eu continuaria sendo um homem normal.
Fui para casa preocupado. Durante uns dias, meu pênis e eu não nos falamos direito. Ele tinha ficado magoado com o que eu disse no consultório. É um sentimental. Semana passada decidi procurá-lo para pedir desculpas. Ele não quis aceitar. Disse que tinha amor-próprio e tal. Essas coisas de gente orgulhosa. Anda agora com umas ideias de separatismo, de independência e não sei quê. Estou meio aflito com essa história toda. Não me parece um bom negócio. Pelo menos para mim, claro.
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