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domingo, 13 de maio de 2012

QUE VEXAME, MEU DEUS!

Por João Paulo da Silva

Um amigo até me falou que era bobagem. Machismo da minha parte e coisa e tal. Eu até concordo. Mas é que... sei lá. Ficou um clima chato, sabe? Maior constrangimento, pô! Fiquei todo sem jeito na hora. 

 Eu tinha ido ao urologista. O motivo? É melhor poupá-los dos detalhes. Posso dizer apenas que o problema se tratava de uma dor que eu estava sentindo numa região estratégica. Mas a situação era dura, confesso. Sem trocadilhos maldosos, por favor. 

 O certo mesmo é que fui tomado pelo nervosismo. Me angustiava só de pensar no que o médico poderia dizer. Uma porção de hipóteses passava pela minha cabeça medieval. - 
Hum... - 

É grave, doutor? - 

Grave?! Gravíssimo, meu caro! 
- Ai, meu Deus do céu! O que é que eu tenho?
 - Você faz sexo regularmente?
 - Regularmente? Bom, até as 20 horas funciono regularmente. Depois... já não garanto. 
- Hum... 
- O que foi? 
- Vamos ter que amputar. 
- O quê?! Amputar? Mas por quê? 
- Por falta de uso.
 Enfim, eram ideias estúpidas como esta que ocupavam minha mente quando fui chamado pela recepcionista. - Senhor João? Pode entrar. Sala dois. 

 Entrei. Todo desconfiado. Mas entrei. - Muito bem, João. Qual é o problema? – perguntou o médico atrás de uma mesa. 

 Entre uma gaguejada e outra, fui explicando tudo nos mínimos detalhes. Rapidamente, o médico deu o diagnóstico. 

- O senhor vai ter que entrar na faca.
 - Como assim “entrar na faca”?
 – me assustei. 
- Vamos ter de fazer uma cirurgia.
 - Cirurgia? Mas o senhor nem me examinou direito! Eu nem mostrei o... 
- Nem precisa mostrar. Só pelo que o senhor me falou pude identificar o problema. 
- Ahhh, não! Mas agora eu quero mostrar. Faço questão. 

 Um silêncio incômodo se fez. Aí o médico disse: 
- Está bem. Pode se despir. 

 Ao baixar as calças, grande foi a minha surpresa. Enorme, por sinal. 
Eu não estava achando meu pênis. 
- Vamos, rapaz. Pode mostrar. Não precisa ter vergonha.
 – disse o médico. Procurei por toda a cueca. Nem sinal dele. 
- Calma, doutor. Eu vou achá-lo. Não se preocupe. Até ontem ele estava por aqui! Juro! Ai, meu Deus. Que vexame! 

 Finalmente, com muito esforço, consegui encontrá-lo. Estava muito encolhido. Tinha se escondido quando ouvira falar em faca. Aproximei-me um pouco dele e murmurei: 
- Isso é coisa que se faça, rapaz! Olha o vexame! Vamos! Apareça! Com essas coisas não se brinca. 

 O médico não disse nada. Com certeza notou meu constrangimento. Quis me poupar. Explicou apenas que o procedimento cirúrgico seria simples. Meu problema era ocasionado pelo excesso de algo que precisava ser reduzido. Daí a necessidade de operar. Segundo o médico, eu continuaria sendo um homem normal. 

 Fui para casa preocupado. Durante uns dias, meu pênis e eu não nos falamos direito. Ele tinha ficado magoado com o que eu disse no consultório. É um sentimental. Semana passada decidi procurá-lo para pedir desculpas. Ele não quis aceitar. Disse que tinha amor-próprio e tal. Essas coisas de gente orgulhosa. Anda agora com umas ideias de separatismo, de independência e não sei quê. Estou meio aflito com essa história toda. Não me parece um bom negócio. Pelo menos para mim, claro.

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