Paulo Por João da Silva
Eu devia ter uns oito anos, acho. Na rua em que eu morava havia uma garota linda. A casa dela ficava umas duas ou três depois da minha. Eu gostava de tudo nela. Do cabelo, dos olhos, do jeito de andar, da boca. Ah, a boca. Meu Deus, que boca! Ok. Tudo bem. Eu sei que era só uma paixonite de criança, daquelas que todo mundo tem na infância. Mas a verdade é que essas coisas costumam deixar estragos na vida da gente se não forem concretizadas. Eu sonhava em beijar aquela garota. Seria meu primeiro beijo e minha chance de começar em grande estilo.
Um dia ela apareceu lá em casa. Tinha acabado de comprar um videogame e queria uns jogos emprestados. Na rua inteira, só eu possuía jogos do mesmo videogame.
- João! Ô João! – ela chamou da porta.
Fui atender todo emocionado.
- Tu podes me emprestar uns jogos? – perguntou ela.
- Posso sim. Espera aí que eu vou pegar. – disse eu, tomando cuidado para não deixar a baba escorrer.
Foi no caminho até o meu quarto que tive a ideia, soprada no meu ouvido pelo capeta. Era a chance. Peguei os jogos e voltei correndo. A casa em que eu morava possuía grades nas janelas e na porta. Quando ela já estendia o braço para pegar os jogos, dei meu lance de mestre. Puxando rapidamente a mão, eu disse:
- Êpa! Calminha aí.
- O que foi?
- Só te empresto os jogos com uma condição.
- Qual?
- Quero um beijo.
Ela hesitou um instante, olhando alternadamente para minha boca e os jogos em minhas mãos. Provavelmente, estava analisando todas as implicações daquele ato, pesando os prós e contras, os lucros e os prejuízos, verificando se algumas partidas de videogame valeriam o sacrifício. Por fim, se decidiu.
- Tá. Tá bom.
Eufórico, ajeitei meu biquinho por entre as grades da porta. Ela fez o mesmo, mas não sem antes contorcer o rosto numa careta. Demos um selinho rápido. Tive, porém, a impressão de que durou uma eternidade. Tá. Tudo bem. Eu sei que não foi nada romântico o que fiz. Meu primeiro beijo foi meio mercantilizado, admito. Uma espécie de escambo. Infelizmente, não comecei em grande estilo, como eu havia sonhado. Afinal, o que poderia fazer um garoto de oito anos num mundo que ensina, desde muito cedo, a vender, negociar e trocar tudo? Tempos difíceis e imorais.
Hoje, entretanto, garanto que não faço mais. Palavra!
Um dia ela apareceu lá em casa. Tinha acabado de comprar um videogame e queria uns jogos emprestados. Na rua inteira, só eu possuía jogos do mesmo videogame.
- João! Ô João! – ela chamou da porta.
Fui atender todo emocionado.
- Tu podes me emprestar uns jogos? – perguntou ela.
- Posso sim. Espera aí que eu vou pegar. – disse eu, tomando cuidado para não deixar a baba escorrer.
Foi no caminho até o meu quarto que tive a ideia, soprada no meu ouvido pelo capeta. Era a chance. Peguei os jogos e voltei correndo. A casa em que eu morava possuía grades nas janelas e na porta. Quando ela já estendia o braço para pegar os jogos, dei meu lance de mestre. Puxando rapidamente a mão, eu disse:
- Êpa! Calminha aí.
- O que foi?
- Só te empresto os jogos com uma condição.
- Qual?
- Quero um beijo.
Ela hesitou um instante, olhando alternadamente para minha boca e os jogos em minhas mãos. Provavelmente, estava analisando todas as implicações daquele ato, pesando os prós e contras, os lucros e os prejuízos, verificando se algumas partidas de videogame valeriam o sacrifício. Por fim, se decidiu.
- Tá. Tá bom.
Eufórico, ajeitei meu biquinho por entre as grades da porta. Ela fez o mesmo, mas não sem antes contorcer o rosto numa careta. Demos um selinho rápido. Tive, porém, a impressão de que durou uma eternidade. Tá. Tudo bem. Eu sei que não foi nada romântico o que fiz. Meu primeiro beijo foi meio mercantilizado, admito. Uma espécie de escambo. Infelizmente, não comecei em grande estilo, como eu havia sonhado. Afinal, o que poderia fazer um garoto de oito anos num mundo que ensina, desde muito cedo, a vender, negociar e trocar tudo? Tempos difíceis e imorais.
Hoje, entretanto, garanto que não faço mais. Palavra!
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