Minha lista de blogs

domingo, 30 de outubro de 2011

MANDRAKE

Por João Paulo da Silva





A gente sempre acha que já viu de tudo nessa vida. E é aí que mora o perigo. Na maioria das vezes, subestimamos a cota de bizarrices que cada um de nós possui. Certo professor de Língua Portuguesa, na tentativa de ganhar a simpatia de seus alunos, resolveu entrar numa popular brincadeira proposta pela turma da 6ª série. Se você foi uma criança normal, com certeza já brincou de “Mandrake”. Não lembra? É simples. Quem estiver brincando, precisa ficar o tempo todo com os dedos de uma das mãos cruzados. Do contrário, se alguém disser “Mandrake”, o participante que foi pego com os dedos descruzados não poderá se mexer até receber permissão.
Na ânsia de conseguir a confiança dos alunos, o professor entrou na brincadeira. Só teve um problema: ele levou tudo a sério demais. Dava aula com os dedos cruzados, escrevia no quadro com os dedos cruzados, corrigia as atividades da turma com os dedos cruzados. Tudo isso para não ser pego no “Mandrake”. Passou uma semana, e a brincadeira persistia. Nem ele nem os alunos se descuidavam.
Um dia, enquanto o professor escrevia no quadro, um menino chegou perto e disse:
- Professor, posso ir ao banheiro?
- Claro. Pode ir.
Mal o garoto cruzou a porta e desceu as escadas, o professor se virou para a turma.
- Agora eu pego ele.
E saiu na ponta dos pés atrás do aluno. Esperou um pouco na porta do banheiro, depois entrou. O menino estava lavando as mãos quando foi surpreendido.
- MANDRAKE! – gritou o professor.
Como num passe de mágica, o pobre do moleque ficou paralisado.
- Agora te peguei, malandro.
- Pô, professor. Assim não vale, não.
- Que não vale o quê, mané?! Você vai ficar aí paradinho.
- Mas assim eu vou perder aula.
- E o que é que eu tenho a ver com isso?
- Ué, você é o professor.
- Isso não quer dizer nada. Você deveria ter pensando nisso antes. Agora aguente.
E lá se foi o professor de volta para a sala, deixando o aluno paralisado dentro do banheiro. Só depois do fim da aula foi que ele recebeu permissão para se mexer. O moleque já estava aos prantos quando o professor entrou.
- Mas o que isso?! Chorando?! Você é um homem ou um pacote de amendoim?!
- Sou um pacote de amendoim.
- Frouxo! Sabe nem brincar. – sentenciou o professor.
“Mandrake” não era pra qualquer um.

Nenhum comentário:

Postar um comentário