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segunda-feira, 18 de abril de 2011

O BANANA

Por João Pauloda Silva
Não há um só dia em que a gente não escute alguém reclamar da violência. Nas filas, nas praças, nos jornais. Em todo lugar. Ao que parece, à medida que a miséria e fome aumentam a violência se expande mais. E as vítimas, na maioria das vezes, são aquelas que menos têm para serem roubadas. Isso sem falar, é claro, no pior de todos os roubos: o roubo oficializado, quando o governo faz seus cortes nos orçamentos da saúde, educação, reforma agrária etc. Enfim, começamos a vislumbrar a decadência. Digo isso porque a cena que presenciei por esses dias me serve de prova irrefutável. Assim como tantas outras pessoas, eu voltava pra casa no começo da noite quando ocorreu o incidente. Nesse dia, o ônibus até que não estava tão cheio e eu viajava sentado. Num determinado ponto da viagem, subiu no coletivo um sujeito mal-encarado. Percebi as pessoas trocarem olhares de desconfiança, numa clara expressão de perigo iminente. Assim que passou pela roleta, o homem gritou: - Todo mundo quieto! Isso aqui é um assalto! Pode ir passando os celular, relógio e dinheiro! Por baixo da camisa, o homem segurava um objeto pontiagudo, semelhante ao cano de um revólver. Os passageiros, assustados, começavam a entregar as coisas. Nesse instante, o motorista deu uma freada mais brusca. O assaltante cambaleou, desequilibrou-se e, para não cair, acabou soltando o objeto que tinha por baixo da roupa. Era uma banana! Isso mesmo. Uma banana. A cena que se seguiu foi uma daquelas que contando a gente não acredita. A multidão partiu pra cima do sujeito e o que se viu foi um verdadeiro linchamento. O pobre do homem apanhou mais do que carne de terceira. Não sei como aconteceu, mas milagrosamente ele conseguiu escapar por uma das portas do ônibus. - Palhaçada, rapá! Tá pensando que o povo é trouxa?! – diziam uns. - Onde já se viu uma coisa dessas?! Assaltar com uma banana?! É o fim da picada. – protestavam outros. Após uma chuva de xingamentos, a relativa paz voltou a tomar conta do coletivo. Mais tranqüilo, me lembrei de procurar a banana que o assaltante havia deixado cair. Encontrei apenas a casca. Alguém tinha comido.

Definitivamente, estamos à beira do caos.

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