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segunda-feira, 20 de junho de 2011

OBSOLETOS

Por João Paulo da Silva






Uma pesquisa publicada recentemente na revista Nature trouxe uma revelação importante sobre o papel social das mulheres na pré-história e em nossos dias atuais. A análise de paleontólogos da Colorado University Boulder, nos Estados Unidos, indica que as fêmeas das espécies Australopithecus africanus e Paranthropus robustus, que viveram há mais de um milhão de anos, no sul da savana africana, passavam a maior parte do tempo caçando, enquanto os machos ficavam em casa lavando os pratos. Os pesquisadores chegaram a esta conclusão graças a um estudo realizado com 19 dentes que pertenceram a estes nossos parentes mais peludos. A observação aponta que mais da metade dos dentes femininos foi encontrado longe do local onde viviam as espécies, contra apenas 10% dos dentes dos homens, o que sugere que a macharada vivia cuidando do lar e as fêmeas saiam para conseguir comida.
Todas as pesquisas honestas que se debruçam sobre existência da vida humana na Terra caminham no sentido de mostrar que, antes da civilização, da propriedade privada e do casamento monogâmico, não havia essa conversa mole de “trabalho de homem” ou “trabalho de mulher”. As mulheres nem sempre dependeram dos homens, como gostam de afirmar os defensores do machismo. Mesmo porque essa propalada dependência foi imposta logo depois que os homens surrupiaram boa parte das invenções e descobertas das mulheres. Se observarmos atentamente a história, perceberemos um fato: em casa ou na rua, foram elas que começaram a longa jornada que arrastou a humanidade até aqui.
Eu já sabia que tinham sido as mulheres as responsáveis pelo desenvolvimento da cerâmica, da curtição de peles, da tecelagem e da construção de habitações. Até as primeiras experiências da botânica, da química e da medicina começaram com elas. A mesma coisa com a colheita de frutos, o cultivo da terra e a domesticação de animais, entre eles o próprio homem. Entretanto, agora, com esta novidade sobre as mulheres caçadoras, estou ainda mais convicto de que elas possuem condições de atuar em todas as áreas de atividades humanas. Mesmo com o capitalismo barateando a mão de obra feminina para nos explorar cada vez mais, é inegável que as mulheres estão ocupando profissões e espaços antes dedicados exclusivamente ao sexo masculino. Inclusive, o número de famílias chefiadas por elas tem aumentado bastante.
Mas por que estou fazendo todo esse preâmbulo? Já me explico. Considerando que as mulheres assinam a obra social de praticamente toda a pré-história e que, nas últimas décadas, depois de milênios de opressão e exclusão, elas reiniciam sua jornada em busca da igualdade, eu sou obrigado a aceitar que nós, homens, estamos obsoletos. Nem mesmo para ter filhos e prazer as mulheres precisam mais de nós. Hoje, a ciência e uma infinidade de “brinquedinhos” sexuais já dão um jeito nisso. Durante muito tempo, acreditamos cegamente que elas sempre necessitariam de nossas habilidades para realizar as tarefas mais pesadas, como matar baratas e instalar a antena parabólica. Entretanto, acabei descobrindo, da pior forma possível, que perdemos totalmente a utilidade.
Era domingo. Em casa, eu e minha companheira aproveitávamos o dia de folga. Estávamos deitados no sofá vendo TV, quando ela falou:
- Tô com um pouco de fome. Acho que vou pegar alguma coisa pra comer na cozinha.
Instantes depois, ela voltou com um pote de azeitonas aberto. Espantado, perguntei:
- Você abriu isso sozinha?!
- Abri.
- Como assim “abri”?! Por que não me chamou?!
- Porque não foi preciso. Eu mesma abri, ué! Pode ser?!
Aquilo me deixou abatido e me fez pensar seriamente no futuro sombrio que nos espera. O que será do gênero masculino se, por exemplo, não pudermos mais abrir potes de azeitonas?! É uma triste constatação, eu sei. Estamos ficando cada vez mais obsoletos. Mulheres, eu vos imploro! Tomem o mundo, mas nos deixem ao menos trocar as lâmpadas.

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